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Camille Claudel
Camille Claudel

 

Camille Claudel

     

     Através do filme “Camille Claudel” podemos refletir de forma interdisciplinar acerca de temas de grande importância para a psicologia; como, o contexto familiar e as relações envolvidas neste mesmo; as instituições dominantes e o contexto da “doença mental”; as escolhas profissionais e seus impasses; o processo de individuação e sua relação com o “tornar-se si mesmo”; a saúde mental e sua relação com todo o contexto familiar, institucional; entre diversos temas possíveis de serem analisados pelo viés do filme.

     O filme nos mostra um contexto familiar conflituoso e predominantemente propício à rejeição; o que pode ter contribuído de forma significativa com a evolução do possível transtorno de ajustamento; ou adaptação, apresentado por Camille.

    Vemos que historicamente o filme se enquadra em um período de transição entre o barroco, onde o contexto religioso era predominante, e o renascimento; baseado na idéia do “homem como o centro do universo”, representado pelo iluminismo.

     A partir deste ponto temos um grande conflito a ser elaborado; onde por um lado, a mãe de Camille lhe impunha conceitos tradicionais, como o lugar que ela deveria ocupar na sociedade, e sua relação ocupacional e profissional enquanto mulher; e por outro uma relação íntima com idéias iluministas originadas por parte do pai; ao qual ela tanto estimava.

     Por meio do tema proposto; surge-nos então, uma questão a ser desenvolvida: Seria a família Claudel, a única responsável pelo desenvolvimento do transtorno apresentado por Camille? É evidente que a família de Camille contribuiu de forma significativa com o desencadeamento de seu transtorno, mas cabe evidenciarmos que o contexto institucional e social contribuiu; também, com o desencadear de sua psicopatologia de forma a intervir nas relações estabelecidas entre Camille e o “mundo”; ou seja; sua forma de interpretar e elaborar as informações recebidas.   

     A este ponto temos um grande impasse a ser discutido a cerca das instituições; às quais são de grande importância na formação do indivíduo enquanto pessoa; e que de forma paradoxa, o aprisiona de maneira a propiciar-lhe um ambiente “doentio” e alienante, baseado no controle de contingências por meio do reforço e punição.

    Apesar de todo transtorno causado em Camille e aos que a cercavam pelas relações institucionais estabelecidas, vemos que o ser humano é um ser inerentemente institucional; ou seja, a instituição o faz “ser humano”, um ser de relação; e por isso o rompimento institucional o levaria a uma regressão, de forma a desumanizar-se, ou tornar-se de alguma forma “animal”.

     Camille, no desenvolvimento de sua escolha profissional depara-se com um grande conflito a partir do momento em que ela se desenvolve artisticamente e “encontra a si mesma” em seu próprio trabalho; descobrindo sua forma única de “ser no mundo” e “ser para o outro”.

    O que poderia seu uma oportunidade de “auto desenvolvimento”; para Camille torna-se um impasse em suas relações, com o outro e consigo mesma, levando-a a uma complicada relação com seu mestre e amante Rodin.

    Enfim; após todo este desenrolar de idéias, fica-nos uma questão de grande importância: Como o profissional de psicologia atenderia um paciente com a personalidade de Camille, levando em consideração os pontos discutidos anteriormente?

    É evidente que no contexto em que nos encontramos hoje; com toda a evolução farmacológica e das ciências psicológicas, é provável que pudéssemos oferecê-la um tratamento de forma menos drástica, através da integração de uma equipe multidisciplinar envolvendo psicólogos, psiquiatras, neurologistas, entre outros.

     Quanto ao papel do psicólogo, caberia a este ajudá-la na construção de sua própria identidade, auxiliando-a na elaboração do luto do que já não a pertence e na criação de mecanismos para que ela pudesse lhe dar com os problemas causados pelas relações familiares, profissionais e institucionais em geral; ou seja, através de uma visão comportamental, poderíamos dizer que a auxiliaríamos a atuar sobre o ambiente, onde uma mudança de comportamento produziria uma mudança neste mesmo.

     Concluindo, vemos que o filme “Camille Claudel”, através de uma análise por meio da psicologia; induz-nos a repensar conceitos acerca da doença mental, seu contexto de inserção e suas relações estabelecidas entre indivíduo e sociedade; mostrando nos que o “ser normal”, é uma questão de  encontrarmos a liberdade e ao mesmo tempo lidarmos com as pressões impostas pela sociedade.

 (Mariana Natan Guimarães, Graduanda em Psicologia pela Faculdade Divinópolis)

Divinópolis-MG

 

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